sexta-feira, 30 de maio de 2014

Bola fora e discriminação - O Globo - Secretário admite que Rio não se preparou para receber deficientes

Vejam a matéria publicada no Globo de ontem criticando a declaração desastrosa do Secretário de Turismo do Município do Rio. Ele retratou bem como pensam os agentes políticos que comandam a capital fluminense em relação à inclusão e à pessoa com deficiência. O Secretário admitiu o óbvio: o despreparo da cidade para receber pessoas com deficiência. Afirmou, porém, que deficiente não e o público-alvo da Copa. Lamentável! O Presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio de Janeiro (Adverj), Márcio Aguiar, e a Superintendente do IBDD, Teresa Costa d'Amaral, se posicionaram de forma incisiva e contundente contra a postura do político. Segue abaixo a matéria: Globo- 29-5-14 Secretário admite que Rio não se preparou para receber deficientes Ludmilla de Lima O secretário municipal de Turismo do Rio, Antônio Pedro Figueira de Mello, protagonizou, nesta quarta-feira, uma saia justa ao comentar a falta de preparo da cidade para receber pessoas com deficiência. Em entrevista à rádio CBN, ele admitiu que faltou atenção a esse público durante os preparativos para a Copa, mas argumentou que esse não é o público-alvo do evento. — A gente não teve toda essa atenção necessária (em relação às pessoas portadoras de deficiência). A gente tem diversos postos que já têm atendimento para isso. Mas não são todos os locais — disse o secretário, completando: — Até porque a gente analisa muito o público que vem para um evento como esse. E para a Copa do Mundo não há tanto esse público. As declarações repercutiram mal. Em nota, a Riotur se desculpou e afirmou que Antônio Pedro se expressou mal. Ainda assim houve uma forte reação entre ativistas de defesa dos direitos dos deficientes. Superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa D'Amaral fez críticas ao secretário e afirmou que a falta de acessibilidade levará o Rio passar vergonha durante a Copa: — A declaração é uma afirmação de discriminação explícita. Implica no reconhecimento de que a cidade não está preparada nem para seus próprios cidadãos. Teresa, que estuda levar o caso à Justiça, diz que o Rio não está preparado para receber as Paralimpíadas de 2016. — O Rio é uma cidade totalmente hostil para a pessoa com cadeira de rodas, surda e cega. A surda não encontra atendimento apropriado nos serviços da cidade. No Rio, não há sinal para cegos. E o direito de ir e vir do cadeirante não pode ser exercido porque a cidade não tem acessibilidade arquitetônica — afirmou. Já o presidente da Associação dos Deficientes Visuais do Estado do Rio, Márcio Aguiar, também não poupou críticas a Antônio Pedro. — Foi uma bola fora do secretário. Se ele fosse atacante da seleção, a gente não ia ganhar a Copa — ironizou Márcio, que é cego. — Todo tratamento diferenciado é caracterizado como discriminação. Você não pode dizer que o deficiente não é o público de um evento a priori. Isso vai na contramão do que se pensa em relação à inclusão e cidadania. Pelo último censo do IBGE, vivem no município cerca de 400 mil pessoas com algum tipo de deficiência. As declarações polêmicas de Antônio Pedro Figueira de Mello dadas à rádio CBN não se limitaram aos deficientes. O secretário municipal de Turismo também afirmou que, embora a cidade vá receber durante a Copa 400 mil turistas estrangeiros, não é importante que os taxistas sejam treinados para falar inglês. Para ele, o domínio da língua estrangeira não é uma obrigação para estes profissionais. — Acho que eles (os taxistas) não precisam ter essa preparação toda. A gente está no Brasil. A nossa língua é o português. A gente tem que saber afirmar a nossa língua também. As pessoas aqui não têm que saber inglês, elas têm que saber se comunicar, por isso a gente criou cartilhas para ajudar os taxistas — afirmou o secretário. Na terça-feira, o próprio secretário afirmou que a prefeitura vai instalar até o início do mundial mais de 3.700 peças de sinalização, entre adesivos, mobiliário urbano e torres, com informações em português, espanhol e inglês. Além disso, 1.500 voluntários vão circular pela cidade distribuindo mapas, folhetos e guias com orientações aos turistas, e 150 guias bilíngues vão trabalhar no entorno do Maracanã. De acordo com Antônio Pedro, o Rio deve movimentar mais de R$ 1 bilhão durante a Copa do Mundo. * O homem das declarações polêmicas e da confiança de Paes As declarações sobre a falta de planejamento específico para receber pessoas com deficiência na Copa não foram as únicas afirmações polêmicas de Antonio Pedro Figueira de Mello. Esta semana, também falando sobre o Mundial, ele afirmou que “o Rio não é a Suíça", e que são esperadas longas filas nos pontos turísticos da cidade. No mesmo dia, disse que não é importante os taxistas do Rio saberem inglês, mesmo com a chegada tantos turistas estrangeiros. Do grupo de confiança do prefeito Eduardo Paes, Antonio Pedro, de 40 anos, está à frente da Secretaria de Turismo e da presidência da Riotur desde 2009, quando o peemedebista assumiu a prefeitura. Em 2012, deixou o Executivo virar tesoureiro da campanha de Paes. Mas, com a reeleição do prefeito, voltou ao governo. Antonio Pedro implantou o modelo de patrocínio do carnaval de rua. No fim do ano passado, o Ministério Público entrou com ação de improbidade administrativa contra ele e Paes por supostas irregularidades na prestação de contas de convênios firmados com as escolas de samba. Antes de trabalhar na prefeitura, ele foi subsecretário estadual de Turismo e diretor-executivo do Parque Nacional da Tijuca. Globo- 29-5-14 Curti