terça-feira, 3 de março de 2009

Deficientes visuais no Carnaval

Deficientes visuais driblam problemas para prestigiarem desfiles
Marsílea Gombata, JB OnlineRIO
- "Eu não vejo, mas sinto". A deficiência visual que leva Eliane Rodrigues a enxergar preto em vez de cores não a intimida ou entristece. Muito pelo contrário, sempre que pode, a estudante de direito vai à Sapucaí para prestigiar o Salgueiro, sua escola do coração. Deficiente visual há 10 anos, Eliane leva ao marido, Gerson de Andrade ao setor 13 desfile do Sambódromo, destinado a portadores de deficiências distintas. No local, que nos dois dias de desfile comporta cerca de 300 cadeirantes, cegos, portadores de síndrome de down e outras doenças, além de 200 acompanhantes, possui uma energia especialmente contagiante.Mesmo sem enxergar, mover-se ou, em alguns casos, poder sambar, o espaço destinado a deficientes que têm acesso gratuito ao setor para assistir o desfile - sob cadastramento limitado - é um dos mais emocionados da Avenida.- São várias pessoas jogando energia para um bem comum - analisa o parcialmente cego Márcio de Souza, ao tentar explicar o que sente ao ver os carros passarem. - Quero ver coisas que acrescentam. Sei que existe falta de informação sobre nós, mas o cego escuta a bateria, sente a emoção do puxador e isso não se pode ter com o desfile transmitido pela TV.Para a professora de braile Cinthya Pereira, pela primeira vez no setor especial do Sambódromo, o que vale é a vibração da bateria e a vibração das pessoas.- Aqui você sente muito mais - conta. - Com a perda total da visão pela diabetes, passei a fazer isso de outra maneira. Quando ia à escola antes, ficava tudo muito no primeiro plano. Mas agora, graças a outros sentido, a percepção fica mais apurada e diferenciada do que antesPara a fonoaudióloga e cadeirante Isabel Abud, assistir o desfile do gargarejo tem um sabor inexplicável e intenso:- Aqui, você tem contato próximo com quem está desfilando, eles conversam e nos olham nos olhos - conta feliz.Fã da Portela e do Carnaval, o portador de síndrome de Down Pedro Monteiro mal consegue explicar o que sente quando alegorias, bateria e fantasias invadem a Sapucaí. Com os olhos marejados, Monteiro explica que o local se torna um ponto de encontro dos deficientes, que acabam se tornando amigos.- Choro sempre que 'vejo' a minha escola. Meu coração bate junto com a bateria - diz sorridente Eliane, que diz saber, pela vibração, o momento exato em que um carro alegórico está passando. É como se a gente pegasse um livro e começasse a ler e vivenciasse mesmo o que está se passando.
01:19 - 24/02/2009

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