terça-feira, 3 de novembro de 2009

POR QUE A TERMINOLOGIA "PESSOAS COM DEFICIÊNCIA"?

Grande parte da sociedade, que não possui familiaridade ou não atua na
área da deficiência, promovendo a cidadania e inclusão social, utiliza o
termo[213_304-Cleber.jpg] "portadoras de deficiência" ou "portadoras de
necessidades especiais" para designar alguém com deficiência. Na maioria
das vezes, desconhece-se que o uso de determinada terminologia pode
reforçar a segregação e a exclusão. Cabe esclarecer que o termo
"portadores" implica em algo que se "porta", que é possível se
desvencilhar tão logo se queira ou chegue-se a um destino. Remete,
ainda, a algo temporário, como portar um talão de cheques, portar um
documento ou ser portador de uma doença. A deficiência, na maioria das
vezes, é algo permanente, não cabendo o termo "portadores". Além disso,
quando se rotula alguém como "portador de deficiência", nota-se que a
deficiência passa a ser "a marca" principal da pessoa, em detrimento de
sua condição humana. Até a década de 1980, a sociedade utilizava termos
como "aleijado", "defeituoso", "incapacitado", "inválido"... Passou-se a
utilizar o termo "deficientes", por influência do Ano Internacional e da
Década das Pessoas Deficientes, estabelecido pela ONU, apenas a partir
de 1981. Em meados dos anos 1980, entraram em uso as expressões "pessoa
portadora de deficiência" e "portadores de deficiência". Por volta da
metade da década de 1990, a terminologia utilizada passou a ser "pessoas
com deficiência", que permanece até hoje. A diferença entre esta e as
anteriores é simples: ressalta-se a pessoa à frente de sua deficiência.
Ressalta-se e valoriza-se a pessoa, acima de tudo, independentemente de
suas condições físicas, sensoriais ou intelectuais. Também em um
determinado período acreditava-se como correto o termo "especiais" e sua
derivação "pessoas com necessidades especiais". "Necessidades especiais"
quem não as tem, tendo ou não deficiência? Essa terminologia veio na
esteira das necessidades educacionais especiais de algumas crianças com
deficiência, passando a ser utilizada em todas as circunstâncias, fora
do ambiente escolar. Não se rotula a pessoa pela sua característica
física, visual, auditiva ou intelectual, mas reforça-se o indivíduo
acima de suas restrições. A construção de uma verdadeira sociedade
inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se
expressa, voluntária ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação
em relação às pessoas com deficiência. Por isso, vamos sempre nos
lembrar que a pessoa com deficiência antes de ter deficiência é, acima
de tudo e simplesmente: pessoa.
(Maria Isabel da Silva, por Ângela Góes).

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