domingo, 25 de abril de 2010

Os bons companheiros

Fonte:Revista Metropole - Publicada em 28/3/2010

Será que todas as dificuldades de locomoção dos cegos estão resolvidos ou estão dando uma espectativa além da realidade para as crianças cegas?
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Os bons companheiros

Pioneiros:

dois cães da raça golden retriever estão sendo treinados no Instituto Pró-visão para servir de guia a crianças cegas
Sammya Araújo (sammya@rac.com.br)

A pele sente a carícia do pelo macio, recebe o aconchego da respiração quente e cadenciada. Os passos se aprumam com a segurança de ter os olhos de um amigo a indicar o caminho certo. Para quem enxerga, o cachorro é "só" bicho de estimação, companheiro fiel, defensor ferrenho. Mas para um cego, representa tudoisso e mais a liberdade. A delícia da independência pode vir pela condução de cães-guia, raros (e caros) no Brasil, que a Organização Não-Governamental(ONG) Instituto Pró-Visão quer começar a treinar e doar a crianças por ela atendidas em Campinas. A proposta, inédita na cidade, é viabilizar a criação e o adestramento dos cachorros até que estejam preparados para atender às crianças, quando então serão entregues gratuitamente a elas.

"As vantagens emocionais e práticas são imensas. Um cão-guia é companhia permanente e segurança para o cego, além de propiciar-lhe uma situação de conforto,garantindo a ele espaço físico, principalmente em locais públicos. Num ônibus, por exemplo, é capaz de pular entre duas pessoas espalhadas num banco que três ocupariam, chacoalhar-se todo e possibilitar que o dono sente ali", diz Maria Cristina Von Zuben, presidente da Pró-Visão.

O treinamento dos cães que a entidade vai doar será realizado pelos integrantes do Projeto Medicão Terapeuta Multidisciplinar, coordenado pelo adestradore cinotécnico Hélio Rovay Júnior, da Art & Nic Adestramento, que formalizou convênio com a ONG.

A presidente conta ainda que a Pró-Visão pretende enviar um técnico da entidade ao Exterior, possivelmente ao Canadá, onde há os melhores cursos do gênero.

Formado, ele ensinaria as crianças a lidarem com os animais, preparação necessária para extrair deles o melhor rendimento e estabelecer um vínculo de confiança com o dono. "Ter um especialista em crianças deficientes visuais junto com o treinador do cão é imprescindível", avalia Maria Cristina.

Tudo isso deve sair do papel no segundo semestre, embora há que se considerar um longo prazo para cada um ter o seu cão – o treinamento começa quando ele tem por volta de 7 meses e dura mais um ano, no mínimo. Sem falar que falta encontrar patrocinadores interessados em bancar o custo do projeto, longe de ser baixo: R$ 25 mil é quanto se gasta para formar um animal como esses, estimam os profissionais do setor. Vale lembrar que tudo é dedutível do Imposto de Renda.

Mas as crianças que frequentam a Pró-Visão já começam a ter os primeiros contatos com os cães-guia. Os cachorros, da raça golden retriever, pertencem a Rovay Júnior e a outros membros do Medicão e atuam em hospitais, escolas e ONGs voltadas a pessoas com deficiência, beneficiadas com o programa de cão terapeuta.

Uma vez por semana, desde a segunda quinzena de março, os animais fazem a alegria e despertam a curiosidade das crianças da entidade em encontros que têm a proposta de introduzir o conceito do cão-guia entre elas. "Achei muito legal, me senti segura. Tenho a esperança de um dia ter um, porque quero enfrentar minha vida sozinha, ser uma pessoa independente. O cão me ajudaria a andar. É um sonho", diz a decidida Kyara Cristina Machado da Silva, de 10 anos, que domina o computador e não vive sem a internet.

Kyara apaixonou-se pela doce Hanna, golden de um ano. Com ela costumam ir à instituição Brenda, sua irmã de dois anos, e a mãe das duas, Mel, de quatro anos. O nanico Juca, um poodle toy de um ano, faz parte da trupe do Medicão, mas está lá apenas para afagos e "festinhas", papel importantíssimo para desinibir e derrubar o temor, comum em crianças, mesmo as sem qualquer deficiência, que pouco ou nunca interagiram com um cachorro.

Kelly Cristina Pereira de Oliveira, de 11 anos, também ficou maravilhada com a experiência. Aposta que um cão-guia abriria seus horizontes. Levada pela família, já fez até esportes radicais. "Não senti medo de ser guiada pela Hanna. Com um cachorro assim eu poderia andar melhor, fazer mais coisas", afirma a garota, que planeja cursar faculdade de fisioterapia e fazer intercâmbio na Espanha.

Sonhos como o de Kelly precisam do apoio de seres humanos sensíveis para orientar-lhes no rumo da realização. Mas que, com as quatro patas peludas de uma criatura muito bem educada guiando-os por aí, seriam decerto mais libertos.

Remédio canino

Mel, Branda, Hanna, Ayla, Boby, Juca, Dana, Peper e Faruke. Essa é a equipe de "terapeutas" do projeto Medicão. Cães das raças labrador, golden retriever e poodle levam, desde 2003, conforto, calor e alegria a hospitais, escolas e entidades que lidam com deficientes. A eles se juntam onze profissionais de um time multidisciplinar que envolve, além do adestrador Hélio Rovay Júnior, pedagogas, psicóloga e fisioterapeuta.

O projeto é calcado na chamada pet terapia, que comprovadamente promove ganhos na saúde física, social e emocional e estimula as funções cognitivas, aumentando a qualidade de vida de pessoas com deficiência e ajudando na recuperação mais rápida de doentes.

Nas escolas, diz Rovay Júnior, os animais contribuem para diminuir problemas de aprendizagem, como os causados por distração, timidez, falta de concentração e ansiedade. O contato com os bichos também trabalha limites, sociabilidade e medo. Todos os programas contam com direcionamento dos especialistas responsáveis pelo tratamento dos doentes e deficientes, assim como dos professores.

Acesso garantido

O acesso irrestrito dos cães-guia a locais públicos é garantido em Campinas pela Lei Municipal 12.292, sancionada em 2005. Pelo texto, impedir a entrada de animais que conduzem pessoas cegas representa violação aos direitos humanos. A legislação também exige que os cachorros sejam certificados pelas entidades responsáveis por sua formação, portem coleira de identificação e documento de habilitação que obedeça a modelo fornecido pela Prefeitura.

Uma lei complementar de 2006, de número 12.578, estabelece sanções aos estabelecimentos que desobedecerem à norma, que começa com advertência na primeira infração. Na reincidência, a multa é de mil Ufics (Unidade Fiscal de Campinas), o equivalente a R$ 2.085,50. Se a discriminação persistir, o local pode ser interditado.

Quantos são?

Não há registros oficiais de quantos cães-guia existem no Brasil, mas adestradores estimam que não sejam mais de 80. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, mostra a distância entre realidade e necessidade: há 148 mil cegos e 2,4 milhões de pessoas com baixa visão no País.

O alto custo de treinamento é o principal obstáculo à popularização dos animais como auxiliares dos deficientes. O maior centro nacional de formação é o Instituto de Integração Social e Promoção da Cidadania (Integra), Organização Não-Governamental (ONG) com sede no Distrito Federal, que também treina e doa os cachorros a pessoas necessitadas. Por falta de recursos, apenas sete cães saem de lá a cada ano, enquanto a lista de espera girava em 300 nomes em 2009. Em 10 anos de existência, o Integra preparou 24 cães.

Participe
Para conhecer mais e saber como ajudar:
www.provisao.org.br
www.projetomedicao.com.br

Confiante e confiável

Nem todo cachorro tem condições de ser cão-guia, assim como os que trabalham com pet terapia. "Os melhores para lidar com cegos são os da raça labrador,golden retriever e pastor alemão", afirma a presidente da Pró-Visão, Maria Cristina Von Zuben. Mas a escolha dos animais envolve características mais complexas.

Numa ninhada de dez, por exemplo, pode ser que nenhum tenha o perfil adequado. "O cão ideal deve ser dócil, amável, receptivo, confiante e confiável", resume o adestrador Hélio Rovay Júnior.

O bicho deve também, por exemplo, segundo Rovay Júnior, aceitar ser tocado de diversas formas. "Os cachorros terapeutas não podem ter reações agressivas,como latir, rosnar e morder a puxões no rabo, no pelo e nas orelhas", o que é normal ocorrer no processo de descoberta e exploração de crianças cegas ou com deficiências intelectuais e físicas, pondera.

A partir de muita observação, o filhote é escolhido entre os 35 e 45 dias de vida, diz o adestrador. O treinamento propriamente dito é precedido de uma fase de sociabilização com uma família voluntária. "O cachorro fica sob a guarda de uma família de seis meses a um ano. Ela deve proporcionar-lhe boa alimentação,convívio e interação social com crianças, adultos e idosos, levá-lo para passear em locais públicos. É preciso que ele tenha o máximo de estímulos do dia a dia", afirma o treinador. Tudo para que se acostume com pessoas e outros animais e não estranhe movimentação ao seu redor.

A parte difícil para quem acolheu o bicho desde filhote é devolvê-lo para o adestramento, o que ocorre a partir de sete meses de vida, em média. Daí até os dois anos, ele será treinado para receber e obedecer comandos como "junto", "senta", "deita", "aqui" e "não". Segundo especialistas no treinamento de cães-guia, eles têm condições de responder a cerca de 80 comandos diferentes, que incluem ainda os que mandam seguir, encontrar a direita e a esquerda, comer e parar diante de obstáculos.

"Uma vez pronto, o animal ainda tem que passar pelo treinamento com o deficiente visual que vai recebê-lo", diz Rovay Júnior. A partir daí, começa sua "carreira" de completa dedicação: o animal fica 24 horas à disposição do dono.

Por causa dessa jornada extensa e cansativa, assim como um ser humano o cão-guia tem prazo para descansar quando a idade pesa. "De modo geral, com seis,sete anos de trabalho eles começam a requisitar a aposentadoria. Aos 9, 10 anos de idade, estão de fato aposentados", afirma o adestrador. Quando isso ocorre, o bicho passa a ser somente companhia e o ideal é que permaneça com o cego, ou com outra pessoa da família.

2 comentários:

  1. Este Hélio Rovay Júnior é um charlatão!
    Ele agride os cães que tenta adestrar.
    Seu próprio filho foi mordido nas partes genitais por um destes cães.
    Há pessoas sérias que fazem este trabalho, porém não é o caso deste indivíduo.

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  2. Olá gente boa do Brasil, eu comentei que eu sou um argentino que quer aprender a treinar cães como poodles para serem doados a quem mais precisa, eu sou criador de Labrador dourado, minha intenção é aprender a treiná-los e doar ou dar para os mais necessitados no meu país, gostaria de informar-me de uma "escola de adestramento de cães como cães-guia no Rio de Janeiro" um e-mail assim que você pode contatá-los, porque no meu país não coincidem. Tenho a intenção de conseguir uma bolsa com o governo argentino para ir estudar no Rio, e em seguida, levantar e treinar cães para serem doados, sem qualquer lucro para ninguém. Se eu puder ajudar bem-vinda qualquer ajuda possível a partir de já muito obrigado e permanecer em sua resposta positiva. Atenciosamente, sem mais Hector Alberto Fernández, DNI 17.775.620
    neck107@hotmail.com

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