segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mestrandos da Poli-USP desenvolvem aparelho que identifica notas de dinheiro

Está em gestação na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) um aparelho capaz de "falar" qual é a cor de um objeto ou qual é o valor de
uma nota de dinheiro. A iniciativa, realizada dentro do Programa Poli Cidadã, é dos mestrandos Fernando de Oliveira Gil e Nathalia Sautchuk Patrício, ambos engenheiros
da computação. A principal inovação da dupla é a intenção de criar um aparelho de baixo custo.

Para isso, eles têm usado as chamadas tecnologias abertas, tanto para desenvolver o programa quanto a parte eletrônica. O objetivo é tornar esse tipo de tecnologia
acessível a deficientes visuais de baixa renda.

Batizado de Auire, o projeto é um dos 42 finalistas de uma competição organizada pelo Unreasonable Institute. O objetivo da entidade é buscar empreendedores
sociais ("unreasonable people", isto é, que acreditam na mudança social) que desenvolvam planos de negócios economicamente sustentáveis.

O instituto escolherá os 25 primeiros finalistas que arrecadarem US$ 6,5 mil em doações. No caso do projeto de Gil e Nathalia, a colaboração pode ser feita
pelo site www.auire.com.br. Os recursos serão usados para custear os responsáveis pelo projeto durante um programa de incubação de 10 semanas na sede do instituto,
nos Estados Unidos.

O aparelho foi inicialmente desenvolvido por Nathalia durante sua graduação. A ideia foi sugerida pela Fundação Dorina Nowill para Cegos. No final do ano passado,
Gil uniu-se a ela para elaborar um plano de negócios para o concurso.

Segundo ele, não existe no mercado um equipamento desse tipo feito com tecnologia nacional e adequado às cédulas de real. Os modelos disponíveis são importados
e não reúnem as duas funções: ou são identificadores de cores ou de cédulas de dinheiro. "Sem contar que o custo dos que existem hoje é elevado: varia de R$ 600
a R$ 1,2 mil", diz Gil.

O aparelho conta com três sensores de luz - um para azul, um para verde e outro para vermelho - e um emissor de luz branca para iluminar os objetos. Com base
nas informações dos sensores, um microprocessador identifica a cor, que tem seu nome reproduzido sonoramente.

No caso das notas de dinheiro, o funcionamento é similar. A diferença é que o aparelho produz um som que indica o valor da cédula. Por enquanto, o protótipo
só emite sons quando conectado a um computador. O próximo passo de Gil e Nathalia será incorporar o sistema a um modelo compacto e móvel. Segundo Gil, também é preciso
melhorar o processo de identificação. O sistema atualmente confunde cédulas de R$ 2 e R$ 100, de cor similar. "Estamos modificando o software e testando outros modelos
de sensores", diz.

De acordo com Gil, o objetivo é iniciar a produção do aparelho dentro de um ano. "Vamos abrir uma empresa para fazer a montagem. Já tem bastante gente interessada, incluindo fundações", afirma.

Usado como identificador de cores, o aparelho pode ser útil para auxiliar pessoas com problemas de visão a escolher roupas e calçados, fazer compras no supermercado
(pela cor do refrigerante, por exemplo) ou identificar remédios.


Sem patente
Outro diferencial do projeto é que, como estão usando tecnologias abertas, Nathalia e Gil não patentearão o aparelho. "Se outras empresas quiserem copiar o
Auire e produzir algo similar, elas poderão. É até bom, pois haverá mais gente vendendo esse tipo de produto a preço baixo. Nosso foco é impacto social, não lucratividade.
Um dos nossos objetivos é baixar o preço desse tipo de equipamento no mercado e levar a tecnologia para quem realmente precisa", afirma Gil.

(João Paulo Freitas)

Brasil Econômico, 5/2)

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